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Economia

Rio quer que Supremo adie julgamento de ação sobre royalties

Estado teme caos financeiro, dependendo do resultado da votação no STF
Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 19/10/2020 - 16:09
Rio de Janeiro
A Petrobras anunciou a chegada da plataforma de petróleo, P-67, ancorada na Baía de Guanabara, destinada ao Sistema de Produção do Campo de Lula, no pré-sal da Bacia de Santos.
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Especialistas, parlamentares estaduais e federais e outras autoridades temem que o estado do Rio de Janeiro enfrente uma situação de caos financeiro dependendo do resultado da votação, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 4.917, que questiona as novas regras para redistribuição dos royalties do petróleo entre estados e municípios. A ação foi impetrada pelo estado do Rio, e o julgamento está previsto para 3 de dezembro.

Segundo o deputado estadual Luiz Paulo (sem partido), se for mantida no julgamento da Adin a distribuição prevista na lei sobre os royalties aprovada pelo Congresso Nacional, o estado do Rio poderá perder algo como 25% da sua receita corrente líquida, e os municípios, 40%. “Quebra todo mundo. Acaba o Regime de Recuperação Fiscal”, afirmou o deputado, durante o debate promovido hoje (19) pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Luiz Paulo disse que, além de sofrer outros impactos, o estado ficaria sem recursos para bancar a saúde, a educação e o sistema previdenciário, uma vez que 83% dos recursos dos royalties são aplicados no pagamento de pensionistas e aposentados do RioPrevidência. “O que se está discutindo aqui é se o estado continua com vida ativa, ofertando alguma política pública, ou acaba de vez. Os outros poderes [Legislativo e Judiciário] também não vão ter duodécimos. Então, é o caos para todos. Não adianta sofisticar números porque não tem saída. É fechar o estado. Se o estado quebrar, é péssimo para o estado, mas também para o Brasil”, afirmou o deputado. Para ele, a distribuição dos royalties tem que ser discutida na reforma tributária, com a análise do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

O adiamento do julgamento da ação pelo STF foi uma sugestão unânime no debate virtual, que, além, de parlamentares, reuniu representantes da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), da Federação do Comércio (Fecomércio Rio) e da Associação Comercial do estado, economistas e reitores de universidades estaduais. O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que era esperado no debate, não compareceu.

O deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ) lembrou que a discussão em torno dos royalties ocorre no mesmo momento em que o estado negocia a continuação do Regime de Recuperação Fiscal, o que agrava as incertezas sobre a situação financeira do Rio de Janeiro. Pedro Paulo disse que a racionalidade tem que imperar nesse debate e que é difícil discutir o tema na Câmara, onde cada parlamentar vai atuar em defesa de seu estado, o que terminaria em prejuízos às unidades federativas produtoras de petróleo e gás. Por isso, o assunto precisa ser decidido pelo STF. A mobilização tem que ser logo na direção do Supremo, no sentido de adiar o julgamento, porque assim haveria mais tempo para que a redistribuição dos royalties seja mais debatida.

"Qualquer decisão só pode ser tomada após a decisão do Supremo", acrescentou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Mudança de data

O presidente da Alerj, André Ceciliano (PT) pretende marcar uma audiência com o presidente do STF, Luiz Fux, para pedir mudança na data do julgamento da Adin. Ele pretende ir ao encontro acompanhado do governador em exercício, Cláudio Castro, do secretário de Fazenda, Guilherme Mercês, dos parlamentares e dos representantes da Associação dos Prefeitos dos Municípios Produtores de Petróleo e Gás do Rio de Janeiro e das entidades que participaram do debate desta segunda-feira.

O deputado federal Wladimir Garotinho (PSD-RJ), que é presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Municípios Produtores de Petróleo, destacou que a ministra Cármen Lúcia também precisa participar da audiência, uma vez que ela é a relatora da Adin 4.917.

Os participantes do debate foram unânimes também ao contestar a afirmação de que o estado do Rio de Janeiro é beneficiado com o recebimento dos royalties.

O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, lembrou que os royalties foram criados como compensação de possíveis danos ambientais causados pela produção de petróleo e gás, quando o Congresso decidiu que o ICMS seria cobrado no estado de destino e não no de origem. O presidente da Federação do Comércio, Antônio Florêncio de Queiroz Júnior, por sua vez, sustentou que o estado do Rio de Janeiro não é beneficiário de absolutamente nada. "Ele é apenas compensado pelo dano que lhe é causado”, afirmou.

Fundo de Participação

O governador em exercício, Cláudio Castro, disse que o estado já é prejudicado na divisão das riquezas do país dentro do pacto federativo, quando envia à União recursos de impostos e recebe de volta no Fundo de Participação dos Estados valor muito inferior.

“O estado do Rio de Janeiro manda de lucro líquido para a União cerca de R$ 150 bilhões por ano. Só durante o regime de recuperação fiscal, o Rio de Janeiro mandou algo em torno de R$ 450 bilhões, o que pagaria a nossa dívida três vezes. O ICMS do petróleo é o único que é cobrado no destino, e não na origem, o que é mais um prejuízo que o Rio tem”, ressaltou.

Já o reitor do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Rafael Barreto, levou ao debate o tema da formação de trabalhadores qualificados que ocorreu após os pagamentos de royalties ao Rio de Janeiro.

“O estado do Rio de Janeiro, há muito tempo, pela sua atuação, gera, a partir dos investimentos relacionados com royalties e outras ações que acontecem no estado, a formação de profissionais, seja em nível superior, seja na formação técnica profissional. Por isso, o impacto da retirada dos royalties ataca diretamente, além da receita dos municípios e do estado, a estabilidade profissional do estado. Vamos ter, por exemplo, profissionais da área química que vão perder espaço e saída de empresas”, afirmou Barreto.