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Mortos durante a ditadura, 31 militantes serão homenageados em cemitério em SP

Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 04/09/2017 - 12:07
São Paulo

Trinta e um militantes políticos mortos durante o período da ditadura militar no Brasil serão homenageados com uma placa de memória que será instalada na tarde de hoje (4) no Cemitério de Perus, em São Paulo. Esta será a primeira de três cerimônias de inauguração de placas de memória que vão homenagear, no total, 53 vítimas da ditadura em São Paulo. Além do cemitério de Perus, também serão instaladas placas de memória nos cemitérios de Campo Grande e da Vila Formosa.

A homenagem é promovida pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, pela Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente e pelo Serviço Funerário do Município de São Paulo. Além das placas, também será plantado um ipê em homenagem a cada um dos presos políticos mortos durante a ditadura.

Placas

No cemitério da Vila Formosa, na zona leste da capital, haverá uma placa lembrando os 19 presos políticos que foram mortos durante a ditadura e enterrados no local. No cemitério Campo Grande, na zona sul, serão homenageados mais três presos políticos.

Mesmo que grande parte dos restos mortais desses militantes jamais tenham sido identificados, a homenagem será realizada tendo como base documentos encontrados no próprio cemitério ou registros achados pelos familiares ou pelas comissões de mortos e desaparecidos que atestam que eles foram sepultados nesses locais.

Vala

A vala clandestina de Perus foi aberta em setembro de 1990 durante a gestão de Luiza Erundina na prefeitura paulistana. No local foram encontradas 1.049 ossadas sem identificação de vítimas de esquadrões da morte, indigentes e de presos políticos.

Na época, a prefeitura determinou a apuração dos fatos e fez um convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a identificação das ossadas. Os trabalhos na Unicamp conseguiram identificar apenas 12 pessoas. O trabalho foi interrompido e, em 2002, as ossadas foram levadas para o Cemitério do Araçá, na capital paulista, sob responsabilidade da Universidade de São Paulo (USP).

Em 2014, uma parceria da Secretaria Especial de Direitos Humanos – hoje, Ministério dos Direitos Humanos  –, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) permitiu a retomada do trabalho de identificação dos restos mortais resgatados da vala clandestina.

Letra T

Em 2014, em audiência pública realizada da Comissão da Verdade Estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo, o administrador do Cemitério de Perus entre os anos de 1976 e 1992, Antonio Pires Eustáquio, falou que uma letra T, grafada em vermelho na declaração de óbito, servia para identificar os corpos dos militantes de esquerda que foram mortos durante a ditadura militar e que eram enterrados como indigentes no cemitério de Perus.

“As declarações de óbito tinha informações mínimas [sobre os corpos dos indigentes]. Normalmente tinha uma letra "T", vermelha, que caracteriza hoje o que seriam os 'terroristas'”, disse Eustáquio na audiência.


Lista dos homenageados, segundo informações da Secretaria Municipal de Direitos Humanos:

CEMITÉRIO DOM BOSCO – PERUS

JOAQUIM ALENCAR SEIXAS
(17/04/1971)
Militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), morreu sob tortura nas dependências do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi/SP), então comandado pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Foi o primeiro militante político enterrado como indigente no à época recém-inaugurado cemitério Dom Bosco, em Perus. Seus restos mortais foram exumados em 1977, identificados e trasladados pela família.

DIMAS ANTÔNIO CASEMIRO
(17 a 19/04/1971)
Militante da  Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), foi também dirigente do MRT, tendo sido morto aos 25 anos de idade depois de dias preso e apresentando sinais de tortura. Segundo laudo do Instituto Médico-Legal (IML), seu corpo foi enterrado no dia 20 de abril de 1971, no cemitério de Perus, mas jamais localizado e identificado. É provável que esteja entre as ossadas encontradas na vala clandestina.

DÊNIS CASEMIRO
(18/05/1971)
Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), irmão de Dimas Casemiro, foi sequestrado e submetido a torturas por quase um mês, morrendo aos 28 anos de idade, em meio a versões, datas e registros falsos, forjados pela ditadura militar. Enterrado no cemitério de Perus, seus restos mortais foram resgatados da vala clandestina em setembro de 1990 e identificados no ano seguinte. O corpo foi trasladado em agosto de 1991 para Votuporanga (SP) pela família.

ANTÔNIO SÉRGIO DE MATTOS
(23/09/1971)
Estudante, 23 anos, foi assassinado numa emboscada na Rua João Moura, na capital, e enterrado como indigente no cemitério de Perus. Quatro anos depois, em 1975, a família conseguiu resgatar seus restos mortais e trasladá-los para Macaé (RJ).
Estudante do curso de ciências sociais da USP, militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo), foi morto sob tortura depois de ferido numa emboscada e enterrado no cemitério de Perus, sob o nome falso de Dário Marcondes. Seus restos mortais foram jogados na vala de Perus e nunca identificados.

JOSÉ ROBERTO ARANTES DE ALMEIDA
(04/11/1971)
Militante do Molipo, estudante, foi preso aos 28 anos na Rua Cervantes e assassinado pelos militares. Sua morte foi noticiada pelos jornais somente no dia 9 de novembro e a família foi comunicada depois de o corpo ter sido enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus, sob a falsa identificação de José Carlos Pires de Andrade. Foi exumado e trasladado pela família para Araraquara (SP) em novembro de 1971

FRANCISCO JOSÉ DE OLIVEIRA
(05/11/1971)
Estudante do curso de ciências sociais da USP, militante do Molipo, foi morto sob torturas depois de ferido numa emboscada e enterrado no cemitério de Perus, sob o nome falso de Dário Marcondes. Seus restos mortais foram jogados na vala de Perus e nunca identificados.

FLÁVIO CARVALHO MOLINA
(07/11/1971)
Estudante, militante do Molipo, foi sequestrado em 6 de novembro de 1971 e assassinado um dia depois, sob tortura, pelos agentes do DOI-Codi/SP. Foi sepultado sob o nome falso de Álvaro Lopes Peralta no dia 09 de novembro 11 e levado para a vala clandestina em 1976. Seus restos foram identificados em setembro de 2005, entregues à família e trasladados para o Rio de Janeiro.

JOSÉ MILTON BARBOSA
(05/12/1971)
Ex-sargento do Exército, cassado em 1964, morreu sob torturas depois de ferido em emboscada numa rua do bairro do Sumaré, em São Paulo. Foi sepultado como indigente sob nome falso de Hélio José da Silva, no cemitério de Perus, e até hoje seus restos mortais não foram localizados.

LUIZ HIRATA
(20/12/1971)
Estudante de agronomia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), de Piracicaba, era militante da Ação Popular (AP) e do Movimento de Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Foi assassinado depois de quase um mês de torturas pela equipe do delegado Fleury. Enterrado como indigente no cemitério de Perus, seus restos mortais não foram identificados.

HIROAKI TORIGOE
(05/01/1972)
Militante do Molipo, estudante de medicina da Faculdade da Santa Casa de São Paulo, foi assassinado aos 28 anos de idade, sob torturas, depois de ferido em ação da ditadura militar. Foi enterrado como indigente no cemitério de Perus sob o nome falso de Massahiro Nakamura. Mesmo depois de sucessivas exumações, seus restos mortais nunca foram identificados.

ALEX DE PAULA XAVIER PEREIRA
(20/01/1972)
Estudante, foi morto aos 22 anos sob tortura por agentes do DOI-Codi/SP, apesar da versão oficial de tiroteio. Foi enterrado sob nome falso de João Maria de Freitas, no cemitério de Perus, localizado pelos familiares em 1979 e trasladado para o Rio de Janeiro.

GELSON REICHER
(20/01/1972)
Aluno do curso de medicina da USP, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), morreu na mesma ação que vitimou Alex Xavier, sob torturas, apesar da encenação oficial de tiroteio. Foi enterrado em Perus com o nome falso de Emiliano Sessa. Tempos depois, localizados pela família, seus restos mortais foram trasladados para o cemitério Israelita do Butantã.

GASTONE LÚCIA DE CARVALHO BELTRÃO
(22/01/1971)
Estudante, foi assassinada aos 22 anos de idade por agentes da repressão, sob torturas, apesar da versão oficial de tiroteio. Foi enterrada em Perus como indigente. Apenas em 1975 foi permitido à família o acesso aos seus restos mortais, trasladados para o jazigo da família em Maceió (AL).

HÉLCIO PEREIRA FORTES
(28/01/1972)
Estudante, militante da ALN, foi morto aos 24 anos de idade, sob torturas, apesar da versão oficial de tiroteio. Foi enterrado em Perus, à revelia da família que, anos depois, em 1975, conseguiu trasladá-lo para Ouro Preto (MG).

FREDERICO EDUARDO MAYR
(24/02/1972)
Estudante universitário, militante do Molipo, foi assassinado sob tortura, conforme depoimentos de outros presos. Foi enterrado em Perus como indigente sob nome falso de Eugênio Magalhães Sardinha, tendo depois sido removido para a vala clandestina e só identificado em 1992, quando a família trasladou seus restos mortais para o Rio de Janeiro.

RUI OSVALDO AGUIAR PFÜTZENREUTER
(14/04/1972)
Jornalista, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sequestrado em São Paulo em 14 de abril de 1972, foi assassinado sob tortura no DOI-Codi/SP, no dia seguinte, aos 29 anos. Era militante do Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT) e foi sepultado como indigente no cemitério de Perus. Depois de muito esforço, a família conseguiu identificar os restos mortais e trasladá-lo para Santa Catarina.

GRENALDO DE JESUS SILVA
(30/05/1972)
Ex-marinheiro, foi executado no interior de um avião, no Aeroporto de Congonhas, por agentes da repressão, que divulgaram a versão de que teria se suicidado. Foi enterrado como indigente em Perus no dia 1º de junho de 1972 e seus restos mortais ainda não foram identificados.

IURI XAVIER PEREIRA
(14/06/1972)
Estudante, militante da ALN, foi ferido em uma emboscada no bairro da Mooca, no restaurante Varella, e levado às dependências do DOI-Codi/SP, onde morreu provavelmente sob tortura. Foi enterrado no cemitério de Perus como indigente e somente em 1980 seus restos mortais foram localizados e trasladados para o Rio de Janeiro pela família.

JOSÉ JÚLIO DE ARAÚJO
(18/08/1972)
Bancário, militante da ALN, foi sequestrado e executado por agentes do DOI-Codi/SP depois de muita tortura, conforme testemunho de ex-presos. Foi enterrado como indigente em Perus e, em agosto de 1975, localizado pelo irmão, exumado e trasladado para Belo Horizonte (MG).

LUIZ EURICO TEJERA LISBÔA
(02 ou 03/09/1972)
Universitário, militante da ALN, foi sequestrado em setembro de 1972, aos 24 anos, executado por agentes da repressão e enterrado em Perus como indigente com o nome falso de Nelson Bueno. Localizados e identificados pela família, seus restos mortais foram trasladados em 1982 para Porto Alegre (RS).

ANTONIO BENETAZZO
(30/10/1972)
Jornalista e professor, natural de Verona (Itália) cursou filosofia e arquitetura na USP e militou na ALN e Molipo. Foi sequestrado e executado por agentes da repressão depois de muitas torturas, aos 31 anos. Foi enterrado como indigente no cemitério de Perus, em 31 de outubro de 1972, dois dias antes da divulgação de sua morte. Posteriormente, os restos mortais foram localizados e trasladados pelos familiares.

CARLOS NICOLAU DANIELLI
(30/12/1972)
Operário, jornalista, foi sequestrado e morto, sob tortura, no DOI-Codi/SP, por agentes do Estado. Foi enterrado no cemitério de Perus como indigente. Oito anos depois, em 11 de abril de 1980, seus restos mortais foram trasladados para Niterói (RJ).

ALEXANDRE VANNUCCHI LEME
(17/03/1973)
Estudante de geologia da USP, militante da ALN, sequestrado por equipe do DOI-Codi/SP, foi assassinado um dia depois, sob tortura. Foi enterrado como indigente sem caixão, em cova coberta com cal virgem, para acelerar a decomposição do corpo. Apesar dos esforços da família, os restos mortais de Alexandre só foram trasladados em 24 de março de 1983, dez anos depois.

GERARDO MAGELA FERNANDES TORRES DA COSTA
(28/05/1973)
Estudante da medicina de Sorocaba, morreu aos 23 anos depois de preso e torturado no DOI-Codi/SP, apesar da versão oficial falsa de suicídio. O laudo necroscópico estava marcado com um “T”, de terrorista, e informa que o corpo foi enterrado no cemitério de Perus com o nome de Geraldo. Mais tarde, em 27 de outubro de 1977, foi exumado e enterrado novamente no mesmo cemitério.

LUIZ JOSÉ DA CUNHA
(13/07/1973)
Membro do Comando Nacional da ALN, foi assassinado aos 30 anos nas dependências do DOI-Codi/SP, em decorrência de torturas, e enterrado como indigente no cemitério de Perus. Sua ossada, sem o crânio, foi exumada em 1991, mas só identificada em 1º de setembro de 2006 e trasladada para o Recife (PE) no dia seguinte.

HELBER JOSÉ GOMES GOULART
(16/07/1973)
Militante da ALN, foi assassinado aos 29 anos, em decorrência de torturas, nas dependências do DOI-Codi/SP, onde foi visto por outros presos políticos. Foi enterrado no cemitério DomBosco, em Perus, como indigente. Em 1992, seus restos mortais foram exumados, identificados e trasladados para a cidade de Mariana (MG).

ANTÔNIO CARLOS BICALHO LANA
(30/11/1973)
Militante da ALN, foi sequestrado junto com Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones, em São Vicente, e levado para o sítio clandestino 31 de Março, onde os dois foram executados por agentes do Estado depois de muita tortura. Seu corpo foi enterrado no cemitério de Perus, identificado em 1991 pela Unicamp e trasladado para Ouro Preto (MG).

MIGUEL SABAT NUET
(30/11/1973)
Natural de Barcelona, na Espanha, foi preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP) em 9 de outubro de 1973 e morto um mês e meio depois em decorrência de torturas, segundo depoimentos de ex-presos políticos. Seu assassinato foi anunciado como suicídio e ele foi enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus. Com a abertura dos arquivos do Deops para os familiares dos desaparecidos políticos, em 1992, foi encontrada uma requisição de exame necroscópico com o nome de Nuet marcada com o “T” de terrorista. Ele foi colocado na lista de mortos e desaparecidos políticos e a investigação levou à identificação de sua ossada em 2008.

SÔNIA MARIA LOPES DE MORAES ANGEL JONES
(30/11/1973)
Militante da ALN, a professora foi presa ao lado do companheiro Antônio Carlos Bicalho Lana. Apesar da falsa versão de tiroteio, ela foi torturada antes de ser assassinada e enterrada como indigente e com nome falso no cemitério de Perus. A família passou uma década tentando encontrar seus restos mortais, finalmente identificados em 1991 e trasladados para o Rio de Janeiro.

ÂNGELO ARROYO
(16/12/1976)
Metalúrgico e comerciante, membro do Comitê Central do PCdoB, foi assassinado na Rua Pio XI, no bairro da Lapa, por agentes do Estado. Foi enterrado como indigente no cemitério de Perus e posteriormente exumado e trasladado pela família para o cemitério da Quarta Parada, na capital.

PEDRO VENTURA FELIPE DE ARAÚJO POMAR
(16/12/1976)
Jornalista, ex-deputado federal e membro da direção do PCdoB, foi executado na Rua Pio XI, no bairro da Lapa, por agentes do Estado. Foi enterrado como indigente, sob nome falso, no cemitério de Perus. Posteriormente, foi exumado e trasladado para Belém pela família.