Putin mobiliza mais tropas para guerra na Ucrânia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, convocou nesta quarta-feira (21) 300 mil reservistas para lutar na Ucrânia e disse que Moscou responderá com o poder de todo o seu vasto arsenal se o Ocidente promover o que chamou de "chantagem nuclear" por causa do conflito.
Foi a primeira mobilização desse tipo feita pela Rússia desde a Segunda Guerra Mundial e significa grande escalada da guerra, agora em seu sétimo mês.
A movimentação ocorre após recentes reveses para as forças russas, que foram expulsas de áreas que haviam capturado no Nordeste da Ucrânia, em contraofensiva ucraniana neste mês, e se encontram estacionadas no Sul.
Em discurso pela televisão, Putin disse: "Se a integridade territorial de nosso país for ameaçada, usaremos todos os meios disponíveis para proteger nosso povo - isso não é um blefe". A Rússia tem "muitas armas para responder", acrescentou.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, afirmou que a mobilização parcial implica a convocação de 300 mil reservistas e se aplica àqueles com experiência militar anterior.
Embora a Rússia tenha estado envolvida em vários conflitos desde a Segunda Guerra Mundial, esta é a primeira convocação desse tipo desde então. A longa guerra da União Soviética no Afeganistão envolveu recrutas.
Segundo Shoigu, 5.937 soldados russos foram mortos desde o início do conflito.
Os Estados Unidos disseram, no mês passado, que acreditavam que entre 70 mil e 80 mil soldados russos haviam sido mortos ou feridos. Em julho, haviam estimado o número de mortos da Rússia em cerca de 15 mil.
O conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, afirmou que a mobilização russa é um passo previsível, que se deve se revelar extremamente impopular. Ressaltou que a guerra não está caminhando de acordo com o plano de Moscou.
"Um apelo absolutamente previsível, que parece mais uma tentativa de justificar seu próprio fracasso", disse Podolyak à Reuters. "A guerra claramente não está indo de acordo com o cenário da Rússia."
Antes do discurso de Putin, líderes mundiais, reunidos na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, denunciaram a invasão russa da Ucrânia e planos para quatro regiões ocupadas de realizar referendos, nos próximos, dias sobre adesão à Rússia.
Em ação aparentemente coordenada, líderes regionais pró-russos anunciaram, nessa terça-feira, os referendos para o período de 23 a 27 deste mês, nas províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, que representam cerca de 15% do território ucraniano.
A Rússia já considera Luhansk e Donetsk - que juntos formam a região de Donbas -, que Moscou ocupou parcialmente em 2014, como Estados independentes. A Ucrânia e o Ocidente consideram todas as partes da Ucrânia mantidas pelas forças russas como ilegalmente ocupadas.
A Rússia detém agora cerca de 60% de Donetsk e havia capturado quase toda Luhansk até julho, após avanços lentos durante meses de intensos combates.
Esses ganhos estão agora sob ameaça, depois que as forças russas foram expulsas da vizinha província de Kharkiv este mês, perdendo o controle de suas principais áreas de abastecimento para grande parte da linha de frente de Donetsk e Luhansk.
Em seu discurso, Putin disse que a mobilização parcial de 2 milhões de reservistas militares visa a defender a Rússia e seus territórios. O Ocidente não quer a paz na Ucrânia, afirmou.
"Washington, Londres e Bruxelas estão pressionando Kiev a "transferir operações militares para o nosso território", com o objetivo de "pilhar completamente o país".
Os militares da Ucrânia atingiram esporadicamente alvos dentro da Rússia durante todo o conflito, utilizando armas de longo alcance fornecidas pelo Ocidente.
"A chantagem nuclear também tem sido usada", disse Putin, citando a Usina Nuclear de Zaporozhzhia, na Ucrânia, a maior da Europa. Tanto a Rússia quanto a Ucrânia se acusaram de colocar a usina em perigo durante os combates.
Putin acusou funcionários dos países da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de fazer declarações sobre "a possibilidade e admissibilidade do uso de armas de destruição em massa contra a Rússia - armas nucleares".
"Aos que se permitem essas declarações a respeito da Rússia, quero lembrar que nosso país também tem diversos meios de destruição, e alguns componentes mais modernos do que os dos países da Otan".
O presidente reafirmou que seu objetivo é "libertar" Donbas, o coração industrial da Ucrânia, acrescentando que a maioria das pessoas lá instaladas não quer voltar ao que chamou de "jugo" da Ucrânia.
Ao falar na Assembleia Geral da ONU, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, disse que Putin só desistirá de suas "ambições imperiais" se reconhecer que não pode vencer a guerra.
"É por isso que não aceitaremos nenhuma paz ditada pela Rússia e é por isso que a Ucrânia deve ser capaz de se defender do ataque russo", disse Scholz.
A oposição da Rússia convocou protestos contra Putin. O ativista Alexei Navalny, inimigo do Kremlin, disse que esta é uma guerra criminosa fracassada. "Está claro que a guerra criminosa está piorando, se aprofundando, e Putin está tentando envolver o maior número possível de pessoas nisso", disse Navalny em mensagem de vídeo da prisão, gravada e publicada por seus advogados.
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Matéria alterada hoje (21), às 10h15, para correção e atualização de informações.