Representante da ONU alerta sobre crescimento da extrema-direita
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu nesta quarta-feira (3) vigilância diante dos ganhos políticos da extrema-direita na Europa, citando narrativas que desumanizam os imigrantes e os solicitantes de asilo.
"Precisamos estar muito atentos porque a história nos diz, em particular na Europa, que a difamação do outro, a injúria do outro, é um prenúncio do que está por vir", disse Volker Turk a repórteres em entrevista em Genebra. "É um alarme que precisamos tocar."
Os partidos de extrema-direita obtiveram ganhos no Parlamento Europeu no mês passado. A França está realizando um segundo turno eleitoral neste fim de semana em que os oponentes do partido Reunião Nacional, de extrema-direita e anti-imigração, estão tentando impedi-lo de chegar ao poder.
Como austríaco, cujo país se tornou um foco de antissemitismo na década de 1930 e participou do Holocausto após sua anexação pela Alemanha nazista em 1938, Turk citou anteriormente o desejo de evitar futuras atrocidades como parte de sua inspiração para concorrer ao cargo mais importante de direitos da ONU.
Ex-autoridade sênior da agência de refugiados da ONU, Turk lutou durante anos para aumentar a proteção dos refugiados.
"Na Europa, infelizmente, temos visto um aumento no discurso de ódio, no discurso discriminatório, e é importante que os líderes políticos tenham muito claro que deve haver tolerância zero para essas práticas", disse ele.
Turk atribuiu a ascensão de políticas populistas e extremistas à pandemia de covid-19 e suas consequências, incluindo o aumento do custo de vida, que "privou de direitos, desiludiu um grande segmento da população".
"Os partidos políticos tradicionais nunca fazem uma autorreflexão sobre como eles realmente poderiam fazer seu trabalho para responder às queixas legítimas que as populações e os eleitores têm", acrescentou.
Turk, que está quase na metade de seu mandato de quatro anos como chefe de direitos da ONU e cujo trabalho é se manifestar contra ataques às liberdades, afirmou que espera usar seu cargo para causar impacto em questões globais como a mudança climática.
No entanto, ele afirmou que as guerras, incluindo as de Gaza, Ucrânia e Sudão, o forçaram a entrar no modo de "gerenciamento de crises".
"Temos visto a normalização de coisas que, francamente, eram impensáveis, mesmo há alguns anos".
(Reportagem adicional de Cecile Mantovani e Francois Murphy)
*É proibida a reprodução deste conteúdo.