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Internacional

Número de refugiados e deslocados deve chegar a 140 milhões de pessoas

Estimativa é feita pela agência da ONU para refugiados
Lusa*
Publicado em 04/02/2025 - 11:16
Lisboa
São Paulo (SP), 11/03/2024 - Parte do grupo de refugiados afegãos com visto humanitário que está acampado no Aeroporto Internacional de Guarulhos é levado para abrigo no primeiro dia do Ramadã. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
© Rovena Rosa/Agência Brasil
Lusa

A agência da ONU para os refugiados (Acnur) estima que o número de pessoas forçadas a fugir das suas casas chegue este ano aos 140 milhões, mantendo a tendência de crescimento dos últimos 12 anos.

O número, adiantado à Agência Lusa pela representante de Comunicação e Relações Externas de Portugal junto ao Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Joana Feliciano, mostra o “agravamento das tragédias humanas” e da necessidade de ajuda humanitária.

Atualmente, “temos mais de 122 milhões de pessoas deslocadas à força”, disse ela, acrescentando que esse número inclui pessoas como refugiados, requerentes de asilo, apátridas e deslocados internos.

Essas pessoas são “vítimas da intensificação dos conflitos, das violações dos direitos humanos, de perseguições”, mas também de “um crescente impacto das alterações climáticas”, disse Joana. Para ela, o clima está provocando crises humanitárias sobretudo em países e regiões como Moçambique, Sahel, a região do Chifre de África ou Myanmar.

“Sabemos que, em 2025, vamos precisar de 10 bilhões [de euros] em nível global para conseguir garantir respostas humanitárias nessa área e, particularmente, para as emergências que carecem de maior financiamento, como a Ucrânia, o Líbano, a Etiópia e o Sudão”, mas também “Myanmar, Afeganistão e Síria”, afirmou.

“O fosso entre as necessidades e a resposta humanitária é gigante”, admitiu, reconhecendo que a situação se tornou mais crítica desde que a nova administração dos Estados Unidos, liderada pelo presidente Donald Trump, decidiu “‘pausar’ durante cerca de 90 dias a Agência de Desenvolvimento Externa”.

A Casa Branca publicou, nessa segunda-feira, ordem executiva que congela, durante 90 dias, a ajuda externa fornecida pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid na sigla em inglês), o maior doador individual do mundo.

Segundo o presidente dos EUA, a decisão deve-se à necessidade de tentar expulsar os “extremistas loucos” que alegadamente dirigem a agência, responsável, no ano passado, pelo fornecimento de 42% de toda a ajuda humanitária das Nações Unidas no mundo.

“Isso vai, naturalmente, impactar também o Acnur, já que os Estados Unidos são um dos principais financiadores da ajuda humanitária”, alertou a responsável.

“O Sudão vai precisar de muita resposta em 2025”, garantiu, lembrando que, desde o início dos conflitos, em abril de 2023, mais de 12 milhões de pessoas fugiram do local onde viviam e o número pode aumentar "para mais de 16 milhões".

Também o Afeganistão é um dos destaques feitos por Joana Feliciano, não só porque o país vive há mais de três anos as perturbações associadas à tomada do poder pelos talibãs, em agosto de 2021, mas porque “os afegãos continuam a se debater com uma crise económica terrível, com os impactos crescentes das alterações climáticas e com a diminuição dos direitos e liberdades, principalmente das mulheres e jovens”.

O ACNUR convive ainda com outras emergências prolongadas como a de Myanmar, onde, “sete anos depois de 750 mil [pessoas da comunidade] rohingya terem fugido da repressão violenta no estado de Rakhine, a situação continua a piorar”, ou como a da República Democrática do Congo, onde a escalada da violência continua e “já provocou mais de 400 mil pessoas deslocadas” desde o início de 2025.

“Estamos falando de quase o dobro de pessoas deslocadas relativamente a todo o ano de 2024, em apenas um mês e poucos dias”.

Depois, entre os casos mais recentes de necessidade de ajuda, destaca-se a Síria, onde o grupo Hayat Tahrir al-Sham liderou ofensiva-relâmpago que derrubou o regime de Bashar al-Assad no início de dezembro passado e onde agora “é preciso apoiar os que querem voltar para casa”.

“Estamos considerando que não só na Síria, mas em nível global, seja necessário garantir proteção apoio a 2,9 milhões de refugiados que pretendem ser reinstalados e que retornam, muitos deles, aos seus países de origem”, estimou.

“Infelizmente, podia destacar muito mais emergências, especialmente a da Ucrânia, que já tem quase três anos, e falar de 6,7 milhões de refugiados deslocados internos, mas são muitos números e muitas carências”, disse Joana, destacando que, mesmo com tantas situações exigindo atenção, o Acnur tem de estar sempre preparado para os imprevistos.

“Temos de abastecer os nossos armazéns e também dar formação ao pessoal, porque, em qualquer momento, pode ser declarada nova emergência ou necessidade de reforço da resposta humanitária”, acrescentou.

“Cerca de 300 milhões de pessoas no mundo necessitam de assistência humanitária e proteção, entre as quais as mais de 140 milhões que se estima constituírem o grupo de deslocados à força”, afirmou a representante da Portugal com o Acnur, apelando à solidariedade dos governos e das pessoas para garantir que a resposta humanitária não seja cortada.

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