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Cultura

Peças de religiões de matriz africana vão para o Museu da República

Itens foram apreendidos de 1889 a 1945; prática era considerada crime
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Fabiana Sampaio
15/08/2020 - 11:45
Rio de Janeiro

Após quase três anos de negociações, um acervo de mais de 200 peças de religiões de matriz africana será transferido para o Museu da República no Rio de Janeiro. As peças foram apreendidas entre os anos de 1889 e 1945, em terreiros de candomblé e umbanda quando o Código Penal Brasileiro definia como crime a “prática do espiritismo, da magia e seus sortilégios”.

A maioria das apreensões foi feita durante a Primeira República e a Era Vargas, e as peças eram guardadas na Repartição Central da Polícia, prédio que abriga atualmente a sede da Polícia Civil do Rio.

Essa conquista era uma demanda do movimento Liberte Nosso Sagrado, que apresentou pedido de realocação desses objetos ao Ministério Público Federal. O movimento denunciou em 2017 que as peças estariam armazenadas de forma inapropriada no Museu da Polícia.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a coleção foi o primeiro acervo a ser tombado pelo instituto em 1938, um ano após sua criação.

A coleção reunia originalmente pouco mais de 120 peças e com o passar do tempo, foi ampliada e atualmente tem 520 peças. Ainda de acordo com o Iphan será avaliado se o tombamento vai se estender a todo o conjunto.

Há objetos feitos de materiais diversos como gesso, tecido, madeira, cerâmica e metal. O Iphan destaca entre os itens, um assentamento de Exu, qualificado como peça rara, pequenos vodus e a coleção de cachimbos.

Ainda segundo o Iphan, uma emenda parlamentar foi designada ao Instituto para contratar a equipe especializada que fará a higienização e o acondicionamento do acervo após a transferência para o Museu da República. As instituições envolvidas ainda vão definir a produção do inventário e futuras exposições.

De acordo com o MPF, há, ainda, outras questões a serem concluídas, como um novo nome para a chamada “Coleção Magia Negra”, já que o atual é considerado discriminatório a essas religiões.

Em nota, a Polícia Civil destacou que foi a primeira polícia do Brasil a devolver o acervo apreendido na época e considerou que a assinatura do termo de transferência foi um momento histórico.

 

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