Peças de religiões de matriz africana vão para o Museu da República
Após quase três anos de negociações, um acervo de mais de 200 peças de religiões de matriz africana será transferido para o Museu da República no Rio de Janeiro. As peças foram apreendidas entre os anos de 1889 e 1945, em terreiros de candomblé e umbanda quando o Código Penal Brasileiro definia como crime a “prática do espiritismo, da magia e seus sortilégios”.
A maioria das apreensões foi feita durante a Primeira República e a Era Vargas, e as peças eram guardadas na Repartição Central da Polícia, prédio que abriga atualmente a sede da Polícia Civil do Rio.
Essa conquista era uma demanda do movimento Liberte Nosso Sagrado, que apresentou pedido de realocação desses objetos ao Ministério Público Federal. O movimento denunciou em 2017 que as peças estariam armazenadas de forma inapropriada no Museu da Polícia.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a coleção foi o primeiro acervo a ser tombado pelo instituto em 1938, um ano após sua criação.
A coleção reunia originalmente pouco mais de 120 peças e com o passar do tempo, foi ampliada e atualmente tem 520 peças. Ainda de acordo com o Iphan será avaliado se o tombamento vai se estender a todo o conjunto.
Há objetos feitos de materiais diversos como gesso, tecido, madeira, cerâmica e metal. O Iphan destaca entre os itens, um assentamento de Exu, qualificado como peça rara, pequenos vodus e a coleção de cachimbos.
Ainda segundo o Iphan, uma emenda parlamentar foi designada ao Instituto para contratar a equipe especializada que fará a higienização e o acondicionamento do acervo após a transferência para o Museu da República. As instituições envolvidas ainda vão definir a produção do inventário e futuras exposições.
De acordo com o MPF, há, ainda, outras questões a serem concluídas, como um novo nome para a chamada “Coleção Magia Negra”, já que o atual é considerado discriminatório a essas religiões.
Em nota, a Polícia Civil destacou que foi a primeira polícia do Brasil a devolver o acervo apreendido na época e considerou que a assinatura do termo de transferência foi um momento histórico.