Peças de matriz africana são doadas definitivamente para museu no RJ
519 peças de religiões de matriz afro-brasileira serão doadas de forma definitiva ao Museu da República, no Catete, Zona Sul da capital fluminense. Um dia após o Brasil celebrar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, autorizou a doação das relíquias.
Todos os objetos sagrados para praticantes do candomblé e da umbanda foram apreendidos pela polícia entre os anos de 1889 e 1945, época em que o Código Penal legitimava a intolerância religiosa.
Após anos encaixotadas no Museu da Polícia Civil, as peças foram levadas em setembro para o Museu da República, como um “empréstimo”.
A liberação da coleção era um pedido antigo de lideranças religiosas, por intermédio do movimento “Liberte Nosso Sagrado”.
Na coleção, tombada pelo Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, há instrumentos musicais, imagens de orixás, acessórios de vestuário, fios de contas, peças representando flechas e espadas, entre outros objetos sagrados. No acervo, há uma peça rara: um conjunto de elementos sagrados dedicado a Exú, orixá mensageiro entre os seres humanos e as divindades.
Em nota, o Iphan afirma que este foi o primeiro acervo tombado pelo órgão, em 1938, um ano após a criação do Instituto.
Não se sabe o ano e a localidade em que as peças foram produzidas, pois durante as apreensões estas informações não eram colhidas. Também são desconhecidos os terreiros de onde as peças foram tiradas, mas tudo indica que são do Rio de Janeiro.
Embora a Constituição Federal de 1891 tenha determinado que o Estado brasileiro se tornou laico e com liberdade de religião, artigos do Código Penal foram usados para justificar a repressão a práticas religiosas, o confisco dos objetos e a prisão dos praticantes dos cultos de matriz africana.