Se descobrir em um corpo que não é seu.... São muitos os dilemas enfrentados pelos transexuais. A psicanalista trans Letícia Lanz fala que a descoberta é natural, mas que existe uma luta entre o psíquico e o material.
Sonora: “A minha descoberta foi supernatural, mas o convívio com ela foi extremamente difícil porque a sociedade não reconhece direito de ninguém de viver fora da caixinha. E eu tinha que viver fora da caixinha. Como que eu fazia para sobreviver psiquicamente? Materialmente era fácil, punha uma gravata e era homem, mas, psiquicamente, eu estava arrasada.”
Para Alana Felix, a descoberta foi por volta dos 14 anos.
Sonora: “Que chega um momento isso é tão latente dentro de você. Porque é. Você entendeu? É sua identidade de gênero, é como você se olha, se enxerga e sente. Eu não consegui mais esconder e comecei a me questionar: eu não sou um homem gay, eu sou uma mulher.”
Já para Bruno Frábega, contar para os pais foi o mais difícil.
Sonora: “Primeiro. contei para a minha irmã. Eu até escrevi. Não consegui falar. Ela falou para os meus pais. Ai, eles falaram: se é isso que você quer, nós vamos correr atrás. Deram total apoio.”
Bruno já fez mastectomia, retificou o nome e se prepara para a cirurgia de mudança de sexo. Helena Machado é psicóloga e orientadora da escola onde ele estudava. Segundo ela, além dos pais, Bruno teve o apoio dos outros jovens.
Sonora: “Os jovens aceitam com muita clareza. Eles não discriminaram, eles aceitaram realmente. Quem tinha sua dificuldade ficou na sua, trabalhou sua dificuldade. Foi muito gratificante.”
Desde 2008, o processo transexualizador realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) garante o atendimento integral de saúde a pessoas trans, desde o uso do nome social, tratamento com hormônios, até a cirurgia de readequação de sexo. Maria Inês Gadelha, do Ministério da Saúde, fala do processo.
Sonora: “O processo transexualizador é um composto de várias etapas. O começo dele, na verdade, é uma decisão da pessoa de transformar sua aparência como na medicina nós chamamos o fenotipo.”
Judith Busanello, diretora do Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais, em São Paulo, explica que a cirurgia é uma opção e não uma condição.
Sonora: “A gente não pode impor a cirurgia como uma condição para ser homem ou mulher. O paciente é que tem descobrir, e a gente tem que dar condições para que ele chegue a essa conclusão. Eu posso existir como mulher sem a cirurgia, eu posso existir como homem sem a cirurgia?”
Para a psicóloga e especialista Jaqueline gomes de Jesus, a cirurgia não define a identidade.
Sonora: “A identidade não é definida por cirurgia. O que eu estou querendo dizer é que as pessoas não reduzissem as pessoas trans a seus órgãos genitais. É isso que acontece de um modo geral."
O processo de readequação de sexo pode demorar muito tempo.
*Com produção de Heloisa Fernandes e sonoplastia de Marcos Tavares
** Segunda reportagem de uma série de cinco com publicação até a próxima terça (31), excetuando o fim de semana.