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Direitos Humanos

Famílias atingidas pelas chuvas ocupam prédios em Porto Alegre

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Lucas Pordeus León - repórter da Agência Brasil
19/06/2024 - 20:21
Porto Alegre
PORTO ALEGRE, RS, BRASIL, 05.05.2024 - Chuvas no Rio Grande do Sul  - Fotos gerais enchente em Porto Alegre. Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini
© Gustavo Mansur/Palácio Piratini

As ocupações de prédios abandonados ganharam força em Porto Alegre após as fortes enchentes de maio deste ano. Pelo menos quatro já foram realizadas no centro da capital gaúcha, desde então, por famílias atingidas pelas chuvas.

Uma das ocupações é de um prédio abandonado há mais de dez anos, onde era o antigo Hotel Arvoredo. Agora, o edifício abriga 48 famílias com mais de 120 pessoas.

A faxineira Liziane Pacheco Dutra, de 37 anos, foi viver lá com o marido, a filha e o enteado, além do pai, da mãe e do sogro, depois que a casa deles, no bairro Rio Branco, ficou com água até o telhado.

“A gente aqui em Porto Alegre tem vários prédios ociosos, que não têm utilidade social nenhuma. Aí o presidente falou que ou ia construir casas ou comprar casas em leilão ou prédios ociosos. Então, por que que não aproveita todos esses prédios ociosos e reforma e compra e dá pra população que perdeu tudo. Até pra tirar as pessoas das partes que estão com enchente. Não adianta reformar minha casa. Eu voltar pra lá, a primeira chuva que der forte eu vou ter que voltar pra um abrigo de novo”.  

As novas ocupações são sintomas do agravamento da falta de moradia na capital gaúcha. Segundo pesquisa da Fundação João Pinheiro, existia, em 2019, um déficit habitacional de mais de 87 mil moradias na cidade, situação que piorou com as enchentes que desalojaram, em todo o estado, mais de 388 mil pessoas, de acordo com o último boletim da Defesa Civil.

O pedreiro Carlos Eduardo Marques, de 43 anos, também vive na ocupação do antigo hotel Arvoredo com os quatro filhos e a esposa. Ele contou que, após as chuvas de maio, resolveu conversar com outras famílias insatisfeitas com os abrigos para entrar no prédio abandonado.

“Eu falei com a minha mãe, com as minhas irmãs, elas tinham famílias que perderam tudo e não estavam bem acolhidas em abrigos. Falei ‘mãe, busca essas famílias, veja se eles querem’. E a gente pegou e entrou”.

Um antigo edifício da prefeitura de Porto Alegre também foi ocupado no dia 31 de maio por famílias atingidas pelas chuvas, em uma ação liderada pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia. No dia 8 de junho, famílias ligadas ao MTST, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, foram para um antigo prédio do INSS no centro de Porto Alegre.

Em ambos os casos, as ocupações estão em processo de negociação com os governos responsáveis pelos edifícios.

Situação diferente ocorreu com a ocupação realizada no último domingo (16), quando 100 famílias lideradas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas entraram em um prédio abandonado do governo do estado do Rio Grande do Sul.

Elas foram despejadas, debaixo de chuva, pela polícia militar no mesmo dia. As lideranças acusam o estado de fazer um despejo ilegal, sem decisão judicial. Procurado, o governo gaúcho não se manifestou.

O pesquisador do Observatório das Metrópoles, André Augustin, destaca que a política habitacional na capital gaúcha não tem apresentado soluções de habitações populares. 

“Acredito que no curto prazo a melhor política seria usar esses imóveis que são públicos. Mas, sim, no médio e longo prazo, precisa repensar toda a política habitacional pra que a gente deixe de ter tantos imóveis vagos e a produção imobiliária se volte mais para habitação social”.

De acordo com o Censo do IBGE de 2022, existem mais de 223 mil domicílios não ocupados em toda Região Metropolitana de Porto Alegre.

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