O número de pessoas vivendo em extrema pobreza no Brasil caiu 40% em 2023, na comparação com o ano anterior, e a maior redução foi entre as mulheres negras. Mas, a insegurança alimentar moderada e grave ainda atinge, pelo menos, 12,5% dessas brasileiras.
As informações estão no relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades, que monitora anualmente 42 indicadores sociais e econômicos. Divulgada nesta terça-feira (27), a nova edição compara os dados do ano passado com os de 2022.
Para entender melhor, a insegurança alimentar moderada é aquela em que os cidadãos têm dificuldade para conseguir alimentos. A grave refere-se à fome.
Ainda na escala da insegurança alimentar, 12,3% das pessoas atingidas são homens negros. Entre não negros, essa porcentagem é de 5,8% mulheres, e 5,5% homens.
O relatório destaca ainda que houve um aumento na proporção de crianças indígenas sofrendo com desnutrição: 16,1% entre meninos e 11,1% meninas.
Na avaliação de Oded Grajew, membro do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, iniciativa que reúne representantes da sociedade civil, o documento evidencia, com nitidez, que os grupos mais desfavorecidos e vulneráveis são de mulheres e pessoas negras, os quais, segundo ele, mereciam maior atenção.
Grajew, que também é fundador e conselheiro emérito do Instituto Ethos, defende que combater a desigualdade é mudar as prioridades e investir onde é mais necessário. Ele admite que, embora a situação tenha melhorado para os grupos mais vulneráveis, a parcela mais rica da população, que está no topo da pirâmide, também obteve avanços, o que manteve a desigualdade.
“E nós criamos o Pacto Nacional de Combate à Desigualdade porque a desigualdade é que constrói uma sociedade de castas, e de conflitos, de confrontos, de violência. A sensação de injustiça é um veneno para a sociedade. Faz com que as pessoas desacreditem na democracia.”
Entre os dados positivos, o relatório destaca que a proporção de mulheres negras de 18 a 24 anos que cursam o ensino superior ficou em 19,2% em 2023, acima dos 12,3% do ano anterior.
E, ainda, que diminuiu a percepção de mais gente nas ruas em situação de vulnerabilidade. O que, na opinião de Grajew, corrobora com a melhoria dos indicadores apurados no relatório.