logo Radioagência Nacional
Direitos Humanos

País teve 200 registros de violência contra crianças, por dia, em 2023

Casos afetam todas as faixas etárias; 80% acontecem em casa
Baixar
Fabiana Sampaio - repórter da Rádio Nacional
25/10/2024 - 21:17
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ), 19/05/2023 - Aula de skate para crianças na Vila Olímpica da Gamboa. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
© Fernando Frazão/Agência Brasil

Quase 200 casos de violência física contra crianças e adolescentes foram registrados por dia, em média, no país em 2023. 80% das agressões contra crianças de até 14 anos ocorreram dentro de suas próprias casas. Os dados estão em um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, com base nos dados do Sinan, Sistema Nacional de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde.

Os números mostram que os casos de violência física afetam todas as faixas etárias. Foram registradas mais de 3 mil notificações envolvendo bebês menores de um ano, mais de oito mil relacionados a crianças de 5 a 9 anos, 18 mil na faixa de 10 a 14, e mais de 35 mil casos entre adolescentes de 15 a 19 anos.

Segundo a SBP, especialistas apontam subnotificação desses dados, o que representa mais um desafio para a compreensão da real dimensão do problema. Na região Norte, por exemplo, o número de notificações é significativamente menor e pode estar relacionado tanto à dificuldade de acesso aos serviços de saúde, quanto à ausência de mecanismos eficazes de denúncia, tratamento e proteção.

Luci Pfeiffer, presidente do Departamento de Prevenção e Enfrentamento às Causas Externas da Sociedade Brasileira de Pediatria, observa que, quanto mais precoce, mais danosa é a violência contra as crianças, com impactos que elas podem levar para o resto da vida.

“A primeira grande marca é ela reproduzir, como normal, o comportamento a que ela é submetida. Então, pais agressivos, adultos agressivos à sua volta, ela vai ter isso como algo normal. E, como consequência, ou ela vai transformar num novo agressor e, por isso, cada vez se forma mais violência, e por isso se tem os violentos no mundo, em todas as classes sociais. Ou ela vai se colocar como uma eterna vítima de outros, porque, pra ela, aquele é o viver normal”.  

A pediatra reforça que é preciso quebrar o silêncio nesses casos e que cabe a todos se importar com a vida das crianças e dos adolescentes e denunciar ocorrências suspeitas.

“No evento de uma família, você não se intromete... pelo contrário, não seria intromissão, seria ajuda. Essa família precisa de tratamento e, se ela for extremamente cruel, com certeza, ela está cometendo crimes que precisam ser levados à justiça. A criança, por si só, dificilmente vai contar, porque pra ela é normal. Então, vizinhos, parentes, professores, os sinais... é uma doença, ela tem sinais no corpo, no comportamento”.

No Brasil, a notificação de qualquer suspeita ou confirmação de violência contra crianças e adolescentes é obrigatória para os profissionais de saúde. Os casos devem ser informados ao Conselho Tutelar. Em situações mais graves ou que envolvam crimes, como violências física, psicológica ou sexual, as delegacias de polícia e o Ministério Público também precisam ser notificados.

Os estados da Região Sudeste concentram a maioria dos casos de violência física contra crianças e adolescentes. São Paulo lidera em todas as faixas etárias, com mais de 17 mil registros de violência física, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro.

 

x