Na Trilha da História: Após Lei Áurea, negros libertos sofreram sem lugar no mercado de trabalho
Olá, eu sou Isabela Azevedo, e está começando mais uma versão reduzida do Na Trilha da História!
Hoje, nós vamos falar sobre os 130 anos da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888. A partir daquele dia estava extinta a escravidão no Brasil. Mas o que aconteceu com os negros libertos? Como eles foram inseridos na sociedade brasileira?
Nossa entrevistada é a historiadora Lucilene Reginaldo, doutora em história pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde também é professora de história da África. Ela conta que, quando a escravidão foi abolida, quem se viu livre percebeu que estava, na verdade, preso a um sistema cruel. Nem o moribundo governo imperial ou o novo governo republicano, instaurado no ano seguinte, adotou medidas para integrar os ex-escravos à sociedade.
Sonora: “Uma lei que, no final das contas, não ofereceu nada. Além da lei, você não teve o suporte legal para que esses ex-escravos tivessem um lugar no trabalho livre”
Sem incentivos para entrar no mercado de trabalho ou para ter acesso à educação, os negros recém-libertos se juntaram àqueles que já acumulavam anos ou gerações de liberdade.
Sonora: “Antes de 1888, em algumas regiões do Brasil, grande parte da população negra já era livre. Liberta, ou de escravos que compraram sua liberdade. Ou filhos de escravos libertos. Então, a experiência da liberdade no mundo do trabalho não é uma novidade. O que você tem depois de 1888 é uma nova competição com os imigrantes e a colocação do negro numa posição de inferioridade.”
Na opinião da pesquisadora, a educação é uma das ferramentas mais importantes para a promoção da igualdade racial e a valorização da cultura negra.
Sonora: “O ensino da história da África e o ensino da história do negro no Brasil podem ser uma forma importante para que nossos jovens negros se instrumentalizem para combater o racismo, que, no final das contas, é um pouco entender o que ele é. E como funciona. Primeiro, descobrir que o racismo que parte do pressuposto que a sociedade é naturalmente hierarquizada é uma invenção recente da história da humanidade. E, ao mesmo tempo, pensar que a relação que os europeus estabeleceram com o continente africano não foi marcada por essa natureza inferior. Nisso, a história da África pode contribuir muito. Por outro lado, o estudo da história do negro no Brasil tem mostrado a história de como o racismo se estabelece no pós-abolição e como ele vai entrando na sociedade. E isso pode ajudar a desconstruir esses mitos.”
Esta foi a versão reduzida do Na Trilha da História. O episódio completo tem 55 minutos e traz, além da entrevista na íntegra com a historiadora Lucilene Reginaldo, um papo com a rapper Vera Verônica, que tem vários projetos na área de igualdade racial. Para ouvir, acesse: radios.ebc.com.br/natrilhadahistoria. E se você quiser mandar uma mensagem pra gente, nosso e-mail é culturaearte@ebc.com.br. Até semana que vem, pessoal!
Na Trilha da História: Apresenta temas da história do Brasil e do mundo de forma descontraída, privilegiando a participação de pesquisadores e testemunhas de importantes acontecimentos. Os episódios são marcados por curiosidades raramente ensinadas em sala de aula. É publicado semanalmente. Acesse aqui as edições anteriores.