“Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países se especializam em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções”.
É com esta visão da América Latina que o escritor uruguaio Eduardo Galeano abre sua obra-prima As Veias Abertas da América Latina que se tornou uma referência para os intelectuais da esquerda latino-americana e para compreensão das mazelas do continente. E apesar de afirmar no ano passado que não voltaria a ler seu livro escrito em 1971, essa visão de esquerda, acompanhou Galeano por toda vida:
Na verdade, Galeano não queria ser conhecido como autor de um livro só. Entre suas mais de 40 obras estão a trilogia “Memória do Fogo”, “O Livro dos Abraços”, “Dias e Noites de Amor e de Guerra”, “Futebol ao Sol e à Sombra”.
Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu, no Uruguai, em 3 de setembro de 1940. Filho de uma família de classe média, se formou jornalista, mas desde os 14 anos, sua veia política já era mostrada nas charges que vendia para os jornais uruguaios.
Em 1973 foi preso, depois do golpe no Uruguai e ao sair da cadeia se exilou na Argentina, de onde também se mudou por medo da repressão do regime militar do general Jorge Videla. Com o fim da ditadura uruguaia, em 1985, ele retornou a Montevidéu. No ano passado, Galeano esteve no Brasil, onde foi homenageado durante a Segunda Bienal do Livro e da Leitura de Brasília. Desde 2007, o escritor lutava com as complicações de um câncer no pulmão.
Mas nem a doença, nem a fugas das ditaduras latino-americanas fizeram de Galeano um pessimista. Eric Nepomuceno, historiador e amigo pessoal do escritor, afirma que Galeano era uma pessoa que não se resignou.
Galeano também não sucumbiu à ditadura do medo, que, de acordo com ele, é a mais universal.
O escritor uruguaio deixou a esposa, Helena Villagra, e os filhos Claudio, Florencia e Verónica.
Em nota, a presidenta Dilma Rousseff lamentou a morte de Galeano e afirmou que “é uma grande perda para todos que lutam por uma América Latina mais inclusiva, justa e solidária”.
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