logo Radioagência Nacional
Geral

Rio registra a morte de 170 botos-cinza em 2 meses devido a surto de morbilivirose

Ecologia e Meio Ambiente
Baixar
Cristina Índio do Brasil, da Agência Brasil
13/01/2018 - 07:03
Rio de Janeiro

A mortandade atípica de mais de 170 botos-cinza (Sotalia guianensis) na região das baías de Ilha Grande e de Sepetiba, no Rio de Janeiro, que começou no final de novembro de 2017, tem como causa principal um surto da doença conhecida como morbilivirose dos cetáceos.

 

A conclusão está no segundo boletim técnico dos laboratórios de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Maqua/Uerj) e do Laboratório de Patologia Comparada de Animais Selvagens da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.

 

O boletim destacou que o morbilivírus é o gênero de um vírus da família Paramyxoviridae. Algumas das suas espécies já foram estudadas por causar doenças conhecidas, como sarampo em humanos, cinomose em cães e focas e peste em pequenos ruminantes como cabras e ovelhas. Recentemente, o morbilivírus foi associado à doença renal em gatos. Nos cetáceos atinge botos, golfinhos e baleias.

 

O vírus que atacou os golfinhos, segundo o pesquisador e veterinário do Maqua Elitieri Neto, pode ter sido introduzido por outra espécie de cetáceo que não o boto-cinza, que também vive nas baías de Sepetiba e Ilha Grande.

 

Conforme o veterinário, os vírus dessa família não costumam ser transmitidos de animais para humanos.

 

Sonora: “Não foi registrado ainda um grupo infectando um grupo bem diferente, tipo passar do humano para o golfinho e do golfinho para o humano, ou do golfinho para o peixe. Não tem registro na literatura que este tipo de vírus possa causar interação com humanos”.

 

Segundo o pesquisador, o morbilivírus dos cetáceos já causou surtos de mortalidade na Austrália, no Atlântico Norte e no Mediterrâneo em outras espécies de golfinhos, mas essa é a primeira vez que ocorre na América do Sul. Em 2014 uma pesquisadora da USP observou este vírus em um boto que encalhou no litoral do Espírito Santo.

 

Elitieri Neto disse que a continuidade da ocorrência de mortes é “extremamente preocupante” para a conservação deles, uma vez que em outras populações de cetáceos já se verificou a baixa de até 70% no número de animais.

 

Conforme a rede de contatos de pesquisadores em todo o Brasil, não há registros, até agora, de que esteja ocorrendo surto semelhante em outras partes do país, mas, segundo o pesquisador, não se pode descartar a possibilidade de acontecer em outra área.

 

O veterinário destacou que não há uma maneira de proteger os golfinhos dos vírus. Segundo ele, tratamento para vírus, normalmente, é feito no ataque aos sintomas ou por meio de vacinas, mas, no caso de golfinhos, não se pode pegar o animal que é muito sensível à captura.

 

O que dá para fazer é monitorar os animais e tentar diminuir as outras fontes de estresse para ele, como o trânsito de embarcações e evitar que eles se aproximem de outros grupos de cetáceos.

x