O Brasil já realizou oito transplantes de pulmão em pacientes acometidos pela covid-19. Três deles no Instituto do Coração de São Paulo, quatro no Hospital Israelita Albert Einstein e um na Santa Casa de Porto Alegre, a maior parte pelo SUS.
Para entender sobre esse procedimento raro, conversamos com o cirurgião Marcos Samano, coordenador médico do Albert Einstein. O especialista explica que transplantes pulmonares normalmente são realizados para doenças pulmonares crônicas, que evoluem com necessidade de oxigênio suplementar, sem um tratamento de base disponível.
No caso da covid-19, o transplante é indicado porque a doença acomete os pulmões de maneira aguda, ou seja, de forma súbita e de rápida evolução; o paciente tem lesão pulmonar irreversível e ao mesmo tempo está em situação grave, muitas vezes precisando de suporte como intubação.
Diante do aumento de pacientes com esse tipo de acometimento e sem uma diretriz nacional, o Hospital Albert Einstein elaborou critérios para pacientes aptos para o transplante de pulmão.Marcos Samano ressalta que o tempo médio de espera para um transplante de pulmão no país é de dois anos. Além da alta demanda, muitos doadores de pulmão estão intubados e sob ventilação mecânica, o que pode infectar o órgão antes do transplante. O médico explica que no caso de pacientes acometidos pela covid, critérios de priorização precisam ser discutidos, levando em consideração as condições clínicas dos candidatos.
A reabilitação do paciente após um transplante pulmonar pós-covid é o principal desafio destacado pelo dr. Samano, em virtude do longo período de internação em UTI antes do procedimento. Além disso, a presença de anticorpos contra enxertos torna o procedimento até dez vezes mais complexo do que numa condição habitual.
Das oito cirurgias realizadas no país, quatro pacientes não resistiram. Algumas mortes aconteceram 30 dias após os transplantes de pulmão por outras complicações da covid-19.
Com produção de Michelle Moreira