Neste terceiro ano de pandemia de Covid-19, cientistas do mundo inteiro seguem estudando a disseminação e o combate ao SARS-CoV-2. No Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo, por exemplo, uma dúvida impulsionou uma pesquisa promissora: Por que algumas pessoas são naturalmente resistentes à infecção pelo novo coronavírus?
O trabalho liderado pela geneticista Mayana Zatz teve início em meados de 2020 e buscou casais de voluntários com o seguinte histórico: morando juntos, só um dos cônjuges contraiu Covid-19 com sintomas e o outro, mesmo em contato com o companheiro, não desenvolveu a doença.
Com testes sorológicos, os casos assintomáticos, ou seja, pessoas que haviam sido infectadas, mas não apresentaram sintomas, foram excluídos da amostra. Restaram 86 casais de fato sorodiscordantes, em que apenas um cônjuge carregava no sangue anticorpos para o novo coronavírus.
O pesquisador Mateus Vidigal, responsável pela coleta de material genético dos voluntários, explica que o ensaio conseguiu identificar genes relacionado a células de defesa e genes que prejudicam o sistema imune.
Os resultados sugerem que determinadas variantes genéticas encontradas com maior frequência nos parceiros resistentes estariam associadas à ativação mais eficiente de células de defesa conhecidas como exterminadores naturais.
O histórico da servidora comissionada Valneia Dayse Santana, de 35 anos, moradora de Brasília lembra os exemplos do estudo da USP. Ela conta que o esposo Leandro Santana, de 38 anos, contraiu Covid-19 duas vezes. Na primeira vez, em junho do ano passado, ele apresentou falta de ar e o diagnóstico foi confirmado por teste rápido, RT-PCR e de imagem. Mesmo tendo mantido contato com ele nos primeiros dias, ela também foi testada, mas o resultado deu negativo.
Da segunda vez, em janeiro deste ano, Leandro Santana teve sintomas gripais e já havia tomado as duas doses de vacina contra Covid-19 mais o reforço, assim como Valneia, que seguiu imune ao novo coronavírus.
Dos 86 voluntários que seguem sendo acompanhados pelo grupo de pesquisa da USP, enquanto no grupo dos suscetíveis havia uma maioria de homens, 53 contra 33, as mulheres predominavam entre os resistentes, 57 contra 29.
Atualmente, a pesquisa busca identificar os efeitos da vacina para avaliar se ela induz a produção de anticorpos no grupo resistente.
*Com produção de Daniel Lima.