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Saúde

Triplica o número de afastamento do trabalho por ansiedade e depressão

Em 2024, foram mais de 307 mil casos
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Gabriel Brum - repórter da Rádio Nacional
24/03/2025 - 16:03
Brasília
depressao, suicídio
© Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo

Os afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão triplicaram em 10 anos no Brasil. Foram mais de 307 mil em 2024, segundo o Ministério da Previdência. Em 2015, foram 90 mil.

Junto com outras doenças mentais, o número total de afastamentos chegou a 440 mil no ano passado.

Hoje aposentada, a professora Beatriz Griesinger viveu isso entre setembro de 2023 e abril de 2024. Ela conta que o tratamento é caro e difícil.

Isso acaba sendo bastante desgastante. O tratamento também é difícil. A gente tem uma dificuldade muito grande de encontrar médicos e remédios para acertar. Eu voltei a trabalhar em abril e em setembro eu já estava aposentada. Esse retorno foi muito importante para mim, no sentido de mostrar que eu sou capaz. Ajudou muito como parte do tratamento inclusive para eu me aposentar bem. 

A partir da pandemia de covid-19 os casos de doenças mentais na população dispararam, o que se refletiu nas empresas, diz a médica do trabalho e psiquiatra, Leticia Trés. Mudanças na organização do trabalho também afetaram a saúde mental.

Pouca flexibilidade, dependendo da área da pessoa. Excesso de trabalho. Então tudo isso acaba impactando. Mas também começamos a ter mais notificação e falar mais sobre assunto. Então isso também faz com que as pessoas procure atendimento coisa que anteriormente era menor. 

Já o professor de Psiquiatria da USP, Wagner Gattaz, acredita que o ambiente de trabalho melhorou nos últimos anos, mas é preciso treinar chefes e trabalhadores.

Para os trabalhadores aprenderem a manejar melhor o estresse do dia a dia e também para as lideranças diminuírem com base em ciência e pesquisa o desgaste no ambiente de trabalho. Com isso nós estaremos fazendo não só o tratamento mas a prevenção em saúde mental no ambiente de trabalho.

Uma boa relação com colegas é importante nesse cenário, mas a doença ainda pode aparecer. A copeira Eliandria Pereira está afastada desde julho por uma depressão profunda e lamenta que algumas pessoas não a compreendam.

Ficou até emocionado em falar. Mas meu convívio com minhas colegas de trabalho era bom, não tenho do que reclamar. A minha psiquiatra não me libera para trabalhar, porque eu não tô preparada ainda. Faço o tratamento no Capes. Fiquei internada duas ou três vezes. Eu não sei nem como explicar, porque muitas pessoas não acreditam, mas isso existe, isso é grave. 

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo, diz que é preciso combater o preconceito contra doenças mentais, seja no setor público ou no privado.

Nós sabemos que o preconceito contra quem tem doença mental é muito grande . Se ela tiver, dá trabalho, perde o emprego. Tanto que faz testes psicotécnicos para as pessoas entrarem em concursos públicos, mas não fazem nada para as pessoas se cuidarem. Então isso aqui é um preconceito estrutural. 

O psiquiatra explica que o sinal mais importante para depressão e ansiedade é uma mudança de comportamento que cause perdas à pessoa, no trabalho ou na vida. Aí é hora de procurar ajuda.

*Com produção de Lucineia Marques.

 

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