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Justiça

Após 18 anos, acusado de ordenar Chacina de Unaí é julgado pela 2ª vez

3 auditores que fiscalizavam trabalho escravo e motorista foram mortos
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Márcia Bueno - repórter da Rádio Inconfidência, para a Rádio Nacional
24/05/2022 - 14:55
Belo Horizonte

A dois anos de prescrever, o crime que matou três auditores fiscais e um motorista em 28 de janeiro de 2004, na zona rural de Unaí, noroeste de Minas Gerais, durante fiscalização de trabalho análogo ao escravo, já até motivou a criação dos dias do Auditor Fiscal e de Combate ao Trabalho Escravo na mesma data. No entanto, 18 anos após o episódio conhecido como Chacina de Unaí, os mandantes ainda não foram condenados em definitivo e recorrem em liberdade.

Nesta terça-feira (24), um deles, o ex-prefeito de Unaí, Antério Mânica, passa pelo segundo julgamento ainda em primeira instância. Isso porque a primeira decisão do Tribunal do Júri, ocorrida em novembro de 2015, já 11 anos depois do crime, foi anulada por dois votos a um no Tribunal Regional Federal da 1ª região em 2018, por falta de provas.

Ele havia sido condenado a 100 anos de prisão, logo após o irmão Norberto Mânica receber a mesma sentença. Ambos são produtores rurais em Unaí e foram acusados pelo Ministério Público Federal (MPF) de darem as ordens para matar os auditores fiscais do Ministério do Trabalho Nelson José da Silva, João Batista Soares Laje e Erastótenes de Almeida Gonçalves, além do motorista que os transportavam na data, Ailton Pereira de Oliveira.

Até o momento, apenas os três executores do crime foram condenados e estão presos. Para a delegada sindical em Minas do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho Ivone Corgosinho, as defesas dos réus devem tentar manobras até a data de prescrição do crime, mas os auditores-fiscais precisam de um posicionamento definitivo da Justiça para terem tranquilidade no exercício das fiscalizações do trabalho.

“A expectativa dos auditores fiscais do trabalho com o julgamento de Antério Mânica é que a impunidade possa terminar e que nós possamos ter paz para seguir o nosso caminho, as nossas atribuições, as nossas funções para exercer o que o Estado demanda de nós, sem o medo que a impunidade nos impõe. São 18 anos. As provas são robustas. Todos sabem como foi a metodologia e a organização do crime”.

Nesta segunda-feira, uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais ouviu familiares dos trabalhadores assassinados e representantes de classe sobre os rumos dos julgamentos relativos à Chacina de Unaí.

Enquanto isso, na Câmara Federal, manifestação do vice-líder do governo, o deputado federal Edson de Melo (PP-ES), continua sendo alvo de polêmica e repúdio por parte de representações dos auditores fiscais.

Em audiência da comissão de Agricultura e Pecuária da câmara no último dia 18, o deputado chamou de praga e de presença insuportável alguns fiscais do trabalho que atuam nas plantações de café no Espírito Santo e em outras regiões do país. “São poucos, mas existem”, afirma o deputado, que acusa os profissionais de perseguirem e tratarem produtores e trabalhadores rurais como bandidos.

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