A Lava Jato já se desenrolava há cinco anos, quando o site The Intercept Brasil passou a divulgar conversas vazadas que abalaram a opinião pública a respeito da operação.
Na época, Lula - o principal líder do Partido dos Trabalhadores – já havia sido condenado em duas instâncias e estava preso, cumprindo a sentença definida por Moro, em nove anos e seis meses de prisão. Lula havia sido acusado de chefiar o esquema criminoso na Petrobras.
Foi nesse contexto que, em junho de 2019, o Intercept publicou uma série de reportagens que ficaram conhecidas como Vaza Jato. Elas apresentaram conversas mantidas, no Telegram, entre membros da força-tarefa do Ministério público, e deles com Sérgio Moro.
As conversas haviam sido obtidas ilegalmente por um hacker, que passou o material para o site Intercept. O ex-diretor executivo do veículo, Leandro Demori, explica que a decisão de divulgar os conteúdos seguiu um dos critérios dos manuais de jornalismo: o interesse público. “Tinha o interesse público porque várias informações do chat contradiziam o que os procuradores, os juízes, diziam nos autos e nas suas entrevistas. A gente viu que havia ali uma relação entre Ministério Público do Paraná e a 13ª Vara que era uma relação permeada por várias ilegalidades. Eu noto que hoje, por exemplo, já há uma dúvida e um ceticismo um pouco maior, que são muito saudáveis. A gente tinha uma tendência a acreditar muito cegamente nas coisas que eram produzidas por essas instituições”, avalia Demori.
As conversas revelaram que o então juiz passava informações sensíveis aos procuradores e orientava como deveriam ser feitas as acusações. Nas mensagens, Moro chegou a cobrar novas fases da operação e sugeriu até mesmo que a acusação entrasse com recursos. O chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, sugeriu a outros procuradores ter conhecimento de que Moro condenaria Lula.
Para o professor de Criminologia e Direito Penal da Universidade de São Paulo, Maurício Dieter, é preocupante quando membros do Ministério Público e da Justiça se colocam como protagonistas de investigações.
“E os seus protagonistas não devem ser maior do que a lei em nome da qual eles agem e as instituições as quais eles pertencem. Isso cria uma grande suspeita diante dessas empreitadas messiânicas de passar as coisas a limpo, de perseguir tudo, doa a quem doer. O protagonismo de juízes e promotores, nessas ações, é algo que deve ser evitado a todo custo, porque ali mesmo existe um traço de corrupção interna”, pontua Dieter.
Ana Mielke, coordenadora executiva do Intervozes — coletivo de Comunicação Social — acredita que o vazamento “foi fundamental para os desdobramentos jurídicos" que ocorreram a partir dali. Ela destaca a importância do jornalismo independente para a democracia.
“Felizmente, aquele mesmo jornalismo que, de um lado pode ser tendencioso, criar narrativas únicas, também pode ser um instrumento para expor as farsas. E o vazamento feito pelo Intercept, é um marco por isso. Ele foi fundamental para pôr fim a uma das maiores farsas jurídicas já construídas no Brasil, e ele também foi fundamental para mostrar o quão importante é, para a democracia, a existência de um jornalismo independente e comprometido com a informação de qualidade”, acredita Ana.
A Vaza Jato serviu como base para a justiça decidir pela suspeição de Sérgio Moro, na condenação de Lula. Com isso, a sentença foi anulada e o petista foi libertado em novembro de 2019, após 580 dias de prisão.
Hoje, o ex-procurador Deltan Dallagnol confirma a existência das conversas vazadas, mas alega que elas ocorreram “dentro da legalidade”. Ele acusa a Vaza Jato de construir uma narrativa por meio de interpretações.
"Houve uma série de conversas por mensagens sempre legais, legítimas, lícitas, dentro da lei. Nunca se ultrapassou a linha da busca da verdade e da busca da Justiça. O que a Vaza Jato fez foi um monte de fofoca querendo bancar de escândalo deturpando informações, fazendo interpretações editoriais ou mesmo usando mensagens que podem ter sido deturpadas pelos próprios hackers".
O Senador Sérgio Moro não quis se manifestar sobre o assunto.
No próximo episódio, especialistas avaliam o legado da Operação Lava Jato para o poder judiciário e quais os impactos na economia do país.
A Rádio Nacional apresenta um especial com cinco reportagens sobre a Lava Jato. As matérias serão publicadas de18 a 22 de março. Essa é a terceira da série. Confira a relação completa abaixo:
- Lava Jato: maior operação da PF completa 10 anos
- Especialistas dizem que cobertura jornalística interferiu na Lava Jato
- Lava Jato: publicação de conversas vazadas abalaram a opinião pública
- Lava Jato: investigações causaram impactos negativos na economia
Ficha técnica:
Reportagem: Sayonara Moreno
Sonoplastia: Jailton Sodré
Edição: Daniel Ito
Publicação na Radioagência Nacional: Liliane Farias
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